O IMPÉRIO DE YSL!

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Ao contrário de outros homens, ele admira a personalidade empreendedora das mulheres. Ele reforça a sua vivacidade, poder e confiança. Liberta-as e estimula a ousadia, agilidade e poder numa relação frenética e selvagem com os tecidos. Nunca, alguma vez, conheceu um sentimento de êxtase tão forte que as levasse a uma relação afetiva com a roupa. Suba a passerela e desvende os bastidores da vida de Yves Saint Laurent.
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Comercial Perfume YSL Parisienne.

“Nada é mais belo do que um corpo nu. A roupa mais bela que uma mulher pode vestir são os braços do homem que ela ama. Mas, para as que não tiveram a sorte de encontrar esta felicidade, eu estou lá”, promete Yves Saint Laurent. O olhar no espelho reflete, sempre, um mundo de incertezas, pelo que Yves convida-nos à entrega total do corpo, numa relação orgásmica com o vestuário.
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Panorama de Paris (Wikicommons, Benh Lieu Song).

Em Oran, a cidade no litoral mediterâneo da Argélia, nasceu um dos maiores estilistas de todos os tempos, mas foi a cidade das luzes, Paris, que inspirou Yves Saint Laurent. Aos 17 anos, Yves trabalhou para o estilista Christian Dior e nada fazia prever que a sua convocação para o exército francês, durante a Guerra da Independência da Argélia, o levasse a um tratamento psquiátrico e a ser internado num hospital mental francês. Em 1962, sai da Dior e funda a marca YSL, financiada pelo seu companheiro Pierre Bergé.
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Modelo dos anos 70 posa com smoking feminino YSL (foto de: Helmut Newton).

É nos anos 60 e 70 que a marca torna-se conhecida mundialmente pela sofisticação e criatividade. Yves trouxe consigo uma nova atitude feminina. Ele despiu as mulheres do avental, da sua submissão em relação ao homem e da dona de casa e vestiu-as em roupa de homem, criando um smoking dirigido a elas. A apropriação de modelos masculinos serve a emancipação da mulher, que conquista novos espaços, trabalha fora de casa, assume uma identidade e status social. Trata-se de um vestuário prático que permite movimentos amplos, sem necessitar de ajuda para se vestir e sem estorvar o caminhar ou sentar. O smoking feminino é considerada, por muitos, uma provocação sexual à sociedade pré-formatada e permite a libertação da mulher e a compreensão do seu verdadeiro papel no mundo moderno.
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Comercial Perfume Opium.

Laurent não se deixou ficar pelo smoking e pela diluição dos géneros feminino e masculino. O seu manifesto pelo cromossoma XYSL estendeu-se: cobriu o corpo da mulher com vestuário de atividades profissionais consideradas, na altura, dominantemente masculinas (ex.: marinheiro, caçador), explorando o erotismo da ambiguidade sexual e o feminismo selvagem. Yves declarou que desejava ter inventado as calças de ganga, dado que detêm os atributos que ele queria transmitir com as suas roupas: são espetaculares, práticas, relaxadas e despreocupadas. São dotadas de expressão, modéstia, sex appeal e simplicidade.
A sua genealidade, criatividade e fuga às leis da moda foram alvo de escândalos, críticas e excessos. A alta-costura conheceu saias que se elevaram à altura do joelho, novas silhuetas muito cintadas, blusões de couro – símbolo de uma juventude rebelde e ousada -, decotes assimétricos, transparências, os cortes ousados e as deliciosas flores de Laurent. O guarda-roupa tornou-se mais acessível ao cidadão comum, pulverizando-se, deste modo, a filosofia prêt-à-porter ,que tornava a moda de bom gosto mais acessível.
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Jeanloupp Sieff.

O primeiro modelo de Yves criado para a Maison Dior ficou conhecido como Dovima et les eléphants, dado ter coincidido com a estreia de Richard Avedon enquanto fotógrafo.
Com o passar dos anos, Yves refere que aprendeu que, mais importante que o vestido, é a mulher que o veste. É o primeiro estilista do mundo a usar manequins negras em desfiles de moda e evidencia a feminilidade da atitude, gestos e essência da mulher - física e socialmente ágil, mas ao mesmo tempo poderosa no seu conforto e de uma elegância discreta.
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Yves Saint Laurent.

Desengane-se, porém, quem pense que as luzes da ribalta das passarelas eram as mesmas dos bastidores da vida de Yves Saint Laurent. A definição de Bergé (companheiro de vida) para a personalidade Yves resume-se à expressão: o artista é aquele que mantém a sua vida pessoal em paralelo à vida real. E o seu mundo não era o do glamour e esplendor desfilado nas passarelas. A sua realidade era cinzenta, melancólica e incompreensivelmente só. A aparição pública era uma tortura, os sedativos e substâncias psico-ativas ingeridas agravaram fragilidades psíquicas e a dependência das drogas e álcool seriam, talvez, uma libertação do real.
Em 1971, na campanha de Yves para a sua primeira fragância masculina “Pour homme”, o estilista expõe-se nu. Em 1977, lança o perfume popular “Opium”, com uma campanha publicitária protagonizada por Jerry Hall e que gerou polémica junto das Autoridades Standard de Publicidade (ASA). A ASA considerou que a campanha incitava à injeção de drogas, por mostrar um dedo apontado sobre o braço da atriz e a expressão final: “Sou o teu vício. Sou a bela do Opium.”


Yves estabeleceu um diálogo social do corpo enquanto objeto e linguagem, através das suas criações. Um homem frágil, invencível, misterioso e um mestre incontestável da alta costura, cuja timidez sempre aguçou a curiosidade e atraiu enorme publicidade. Yves compreendeu que o encontro mais importante na vida é o encontro com nós mesmos, e que vestir é um modo de vida.



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