O "it shoe" da próxima estação já pisou mais de um século de história. Ainda assim, a sua essência manteve-se inócua na adaptação às mutações da Moda.
O Mary Jane é, por definição, o sapato que possui uma tira horizontal sobre o peito do pé ou à volta do tornozelo.

Pensa-se que a sua origem etimológica provenha dos sapatos usados pela personagem Mary Jane, criada em 1902 por Richard Outcault, no seu romance cómico Buster Brown. A popularidade da personagem depressa tornou os sapatos num objecto de desejo para as crianças e, até ao fim da década de 1950, os Mary Jane foram um must-have no armário tanto de meninas como de meninos. Assim surgiu a sua conotação inocente e infantil, que o acompanhou durante décadas.

Mas os encantos deste modelo não continuou indiferente aos adultos durante muito tempo: os loucos anos 20 pediam sapatos confortáveis para as estonteantes e aceleradas maratonas de dança, mas que ainda assim mantivessem um apurado sentido estético. Os reduzidos saltos, a ponta arredondada e os materiais nobres caractérísticos dos Mary Jane (maioritariamente fabricados em pele) faziam deles o calçado perfeito para as longas noites de folia. A época de ouro da extravagância adaptou o modelo dos sapatos à regra da ostentação: forrados a seda e cetim, ornamentados com brilhantes ou pintados à mão a vermelho, azul ou dourado.

O "back-to-basics" destes sapatos foi levado a cabo na década de 60, quando Mary Quant infantilizou a já frágil imagem de Twiggy ao colocá-la nuns sapatos rasos em pele preta, com a imortal tira a traçar o peito do pé.

O exemplo foi seguido por Courreges, Yves Saint Laurent e Dior, que pejaram estes sapatos de elegância, sempre na versão de saltos pequenos e sólidos.

A sua aura indiscutivelmente feminina valeu aos Mary Jane uma presença constante no guarda-roupa feminino, e o grito do Ipiranga entoado pelas coleções para o próximo Outono/Inverno não estaria completo sem um desfile destes sapatos nas passerelles. A parada sincopada de mulheres fortes e poderosas que dita uma nova vontade feminina alia os elementos mais românticos dos Mary Jane a materiais e formas mais duras - como peles de cobra e saltos agulha - detectadas em Gucci, Marni e Fendi.

O feminino é a arma do sucesso na estação fria, e os Mary Jane shoes a sua munição mais sofisticada.